Lectio Divina (Eclo 29,1-7): Fiado? Só amanhã?


A lectio de hoje trata de um assunto corriqueiro. Às vezes não entendo pessoas que dizem que a bíblia é ultrapassada. A passagem de hoje, que fala sobre emprestar e pedir empréstimo, é super atual.

A leitura começa falando que quem empresta, pratica a misericórdia. Logo quando li, me recordei daquele dito popular: “quem empresta, não presta”. No entanto, se formos refletir, o que seria emprestar? Senão dar ao irmão por algum tempo algo de que ele necessite utilizar? A palavra de Deus é clara quando se trata de ajudar o próximo, ajudar quem precisa. O próprio mandamento que Jesus resumiu, de amar ao próximo como a si mesmo, traz consigo a ideia de ajudar a quem precisa. Portanto, emprestar é um ato de misericórdia, pois diante da necessidade do irmão, estamos sendo solícitos.

Precisamos emprestar ao próximo quando ele tiver necessidade, mas devolver aquilo que pedimos emprestado no tempo oportuno. É aquela história: faça aos outros aquilo que você espera que eles o façam com você. Se esperas que aquilo que você emprestou seja devolvido na data marcada, então faça o mesmo e devolva aquele livro que está esquecido no seu armário.

Quando nossa palavra está em consonância com nossa atitude, quando fazemos exatamente o bem que prometemos, teremos tudo o que quisermos e quando quisermos, pois as pessoas confiarão em nós a nos emprestar algo de que necessitamos.

Infelizmente, existem pessoas que consideram o empréstimo, como diz o autor sagrado, como uma coisa achada. E deixa quem emprestou em dificuldade, faltando. São pessoas que gostam de se aproveitar dos outros, sugando o que o outro tem como se fossem vampiros sedentos. Uma pessoa dessas é, normalmente, alguém frustrado, que tenta basear sua vida em bens materiais. Quanto mais se tem, mais se quer e encontrou no empréstimo uma forma de possuir.

Essas pessoas na hora que pedem emprestado, falam manso, fazem pequenos favores para conquistar o credor. Este cai na armadilha da cobra e empresta o valor, ou o objeto. Na hora de devolver ao credor, fica adianto e inventando mil desculpas para não devolver o que se foi emprestado. São pessoas sem vergonha na cara, que agem da mesma maneira que um ladrão, tomando para si o que não lhe pertence.

Quando o devedor malandro pode pagar, ele o faz com dificuldade e dá ao credor bem menos do que aquilo que foi combinado. Quando não pode, o credor fica no prejuízo e ainda recebe um novo inimigo, sem motivos. Além disso, devolve com injúrias e maldições à pessoa que deve, em vez de agradecimento. De fato, conheço casos disso, de uma pessoa que comprou um perfume e nunca pagou o valor. É algo feio e todos que sabem, sempre terão cautela em vender algo pra ela, cobrando o valor integral no ato da compra.

Muita gente deixa de emprestar por causa dessas maldades. Quem nunca viu aquela mensagem em mercearia: Fiado? Só amanhã! As pessoas deixam de praticar a misericórdia do empréstimo com quem precisa, por conta dos malandros que não precisam e só querem ter cada vez mais. Os credores têm medo de emprestar e nunca mais receber.

Como praticar, então, a misericórdia nesse sentido? Penso que devemos dar uma chance para a pessoa. Se ela não corresponder, deixemos como está, como um presente, e não emprestamos mais a ela. Além disso, nunca devemos emprestar de uma forma que nos falte. Deus nos dá tudo em abundância, mais do que precisamos, exatamente para que possamos dar ou emprestar a quem precisa.

Peçamos a Deus a graça de sermos solidários, mesmo com quem não é, sermos misericordioso e praticarmos os atos de misericórdia, ensinando, inclusive, a quem faz esse tipo de mazela, de pedir emprestado e não devolver. Louvado seja o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado!

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