Lectio Diária: Eclo 4, 20-31.


Essa passagem parece ser uma lista de atitudes a serem seguidas por uma pessoa sábia.

Observar as circunstâncias e guardar-se do mal é ver as coisas que acontecem e não se deixar levar pelas trevas do erro. O que seria a vergonha que leva ao pecado e a vergonha que traz honra e graça? Certa vez num círculo de jovens pude notar isso. Eram jovens que estavam com um pé no mundo e outro na igreja. Para eles era vergonhoso não ser virgem, por isso era preciso se entregar ao sexo o quanto antes. Essa é a vergonha que leva ao pecado, vergonha de se guardar, vergonha porque os outros fizeram sexo e você, não. Já a vergonha que traz honra é a vergonha de fazer o que é errado e todos descobrirem. Na verdade, é a vergonha de fazer algo errado por saber que o Senhor está vendo. Então a pessoa deixa de fazer.

De fato, Deus nos cumula de sabedoria, embora muitas vezes preferimos a ignorância. Mas o que o Senhor nos pede é que usemos nossa sabedoria no momento oportuno. Não devemos ter vergonha do que sabemos, do que aprendemos, mesmo com os nossos erros. É preciso ser testemunho do que é bom e mostrar às pessoas o caminho correto. Ao fazer isso, não podemos contradizer a verdade, mas nos envergonhar da própria ignorância. Ou seja, se não sabemos aquilo que está diante de nós, silenciamos e buscamos entendimento em um outro momento, seja estudando, seja em oração.

O que significa essas duas afirmações na mesma frase de não se envergonhar de confessar os próprios pecados e não se opor à correnteza de um rio? O rio tem uma fluidez natural. A lei de Deus, chamada de lei natural, é a lei que rege o universo e tudo o que existe nele. Por isso não podemos se opor à lei natural, que seria o mesmo que se opor ao rio, pois nisso nunca sairíamos do lugar e nunca cresceríamos. Confessar os próprios pecados é uma forma natural de deixar o rio fluir, em vez de reter em si mesmo e sofrer sozinho. Diante do insensato, segundo a lei natural, não podemos nos submeter, pois seria o mesmo que nadar contra a maré. Da mesma forma se tornar parciais com os poderosos, que fazem o que bem querem.

Se lutarmos até a morte pela verdade, o Senhor lutará por nós. Não adianta falar e não agir conforme o falar, pois isso não passará de arrogância. É preciso ser corajoso e cumprir aquilo que dizemos acreditar. O que mostra nossa fé não são somente nossas palavras, mas também nossas ações. Precisamos respeitar nossos familiares. Não ser um leão para eles significa não ser rude com eles, tratando-os bem, mesmo que não mereçam. Não podemos ser egoístas a ponto de querer só receber as coisas e não dar nada a ninguém. É só pensar na reciprocidade. Se eu recebo algo de alguém é porque esse alguém se dispôs a dar a mim. Se essa pessoa pensasse de outra maneira e só quisesse receber, nunca teria recebido nada dessa pessoa. É a lei da reciprocidade: faça aquilo que você espera que façam por/com você.

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