Lectio Diária: Eclo 17, 1-12


Muitos têm dificuldade em acreditar que o homem veio da terra. Mas, cientificamente falando, todos os elementos químicos que fazem parte do nosso corpo estão na natureza. Para que o oleiro faça o jarro, ele precisa da matéria prima, precisa do barro. Assim Deus, com o "barro molecular", modelou na história do mundo a nós, à sua imagem e semelhança, e nos fez com o que não é nosso. Com elementos que já existiam neste mundo. Portanto, um dia deveremos devolver à terra esses elementos, embora estejamos sempre renovando nossos átomos e moléculas, eliminando em nossas necessidades fisiológicas e agregando em nossa alimentação.
Por isso a palavra diz que voltaremos à terra. Temos um prazo de validade para fazer o bem aqui. Precisamos fazer o bem aqui e agora, pois como diz São Pedro Julião Eymard: "amanhã será tarde demais". Deus em seu infinito amor ainda nos deu poder sobre todas as coisas da terra. A prova é tanta que bastar olhar em volta e ver o quanto a tecnologia tem evoluído.
Deus não nos deixa desamparados, por isso Ele nos deu a Sua força, nos criou à sua imagem para que tivéssemos também a capacidade de pensar, de criar e de amar. Mas será que temos usado nossas capacidades, ou temos deixado de lado, vivendo ódios e destruindo vidas e objetos?
Deus nos entregou todos os animais em nossas mãos. Quando um animal ataca uma pessoa e a mata, ou mesmo a fere de alguma forma, ele não faz isso por maldade. Não existe maldade nos animais, o que existe é o temor aos homens que Deus colocou nos animais. Eles atacam por medo de nós, para se defenderem. Se não mostramos ameaça, ou se conquistamos o animal, ele nada fará a nós e, inclusive, poderá nos defender em caso de perigo.
Veja como tudo o que Deus faz é maravilhoso: Ele nos deu discernimento para tomar as melhores decisões da vida; nos deu língua para que pudéssemos nos comunicar de uma forma mais elevada que os outros animais; olhos para enxergar o mundo e a partir dele tirar um bom proveito; ouvidos para que ouvíssemos o que tem a dizer os outros, além de ouvir a natureza, o mundo; e, por fim, uma mente para pensarmos, para usá-la e sermos homens e mulheres maduros e melhores. Alguns poderiam questionar: mas e nossos irmãos mudos, ou surdos e mudos? E os cegos? Deus seria injusto e não deu a estes tais dons? Engana-se quem faz esse tipo de questionamento. Deus deu discernimento e inteligência ao homem, que extraiu da natureza inúmeras formas de comunicação. Quem possui alguma dessas limitações citadas, utiliza-se de outra linguagem para a comunicação, como a libras ou a linguagem de sinais. Nisso eles não estão alheios e até homens e mulheres muito cultos existem, pois não olham para sua cegueira ou surdez como limitação, não se colocam como vítimas. Deus nos deu uma capacidade que vai muito além do nosso físico. A grande questão é: estamos usando nossas capacidades?
Além de nos ter enchido de ciência e inteligência, nos mostrou o bem e o mal. Por isso quem faz um mal faz ou porque escolheu o mal, ou porque é escravo do mal. Contudo, quem é escravo pode libertar-se em Cristo Jesus, mas quem escolheu o mal; já é prisioneiro do inferno. O que temos escolhido? O que temos vivido? Que possamos refletir isso.
Ter consciência não é simplesmente ter ciência de nossa existência. Ter consciência é ter uma ciência comum, uma ciência comum que não nasceu no homem, mas sim nos altos céus. Essa ciência comum é que nos faz sentir e até mesmo ver a grandeza das obras de Deus. As vezes vemos uma obra faraônica feita pelos homens, e nem sequer pensamos que eles só o fizeram por conta do poder que Deus lhes deu e que a terra é uma obra muito maior do que qualquer obra feita pelo homem. Aliás, o universo o é, deixando a maior de todas as obras feitas pelo homem no chinelo, comparável a um grão de areia no meio do deserto.
Os homens e mulheres sãos, que usam de sua consciência, louvam a Deus por todas as obras criadas por Ele e por todas as obras criadas por nós. Louvam por todas as boas obras praticadas e geradas pela humanidade. Essas pessoas sabem que tudo é dom de Deus e cantam louvores a Ele.
Além de nos dar ciência, Deus também nos deu a lei da vida como herança, para que pudéssemos seguir essa lei natural gerada pelo Criador. Que lei natural é essa? Basta perguntar aos estudos da biologia clássica, que mostram o que a vida é e de onde veio, nossa origem. Por exemplo a nossa origem neste mundo: Uma pessoa nasce da união de um homem com uma mulher, não da união de pessoas do mesmo sexo. Mesmo aqueles que vivem relações homoafetivas, vieram da união de um homem com uma mulher. Isto é uma verdade universal e natural que, doa a quem doer, ninguém poderá mudar. É um exemplo da lei da vida.
Deus não quis só nos criar e nos cumular de dons e bens, Ele também quis fazer uma aliança conosco. Desde a antiguidade a aliança tem o significado de unir. Quando o casal se casa, usa a aliança como sinal de união. Como a palavra de Deus diz em gênesis, eles se tornam uma só carne. Assim, Deus quis fazer uma aliança conosco, quis tornar-se uma só carne conosco. Por isso enviou seu filho unigênito, para que o divino se unisse ao humano e se tornasse uma só carne. Em Cristo Jesus a humanidade abraça a divindade, e vice versa, e passamos a fazer parte da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).
Assim, com os sentidos que Deus nos deu, conseguimos contemplar a grandeza da glória de Deus, que existe em tudo o que pudemos refletir nesta lectio. E mesmo nossos ouvidos podem ouvir a majestade da voz do Pai celestial. Sim, Deus não nos furta de viver grandes graças e milagres, não nos furta de viver o céu aqui na terra. Basta que abramos o nosso coração a todos os dons e graças que Ele nos deu e vivamos segundo Vossa vontade e Vossos desígnios.
Por fim, diante de tudo isso, podemos chegar ao ponto de que não temos motivos para ser injustos. Muito pelo contrário: Deus nos cumulou de dons para que saibamos pensar e agir de maneira coerente com a vontade do Altíssimo. Por isso precisamos nos preocupar com o próximo e viver a caridade. Nem todos conseguiram chegar ao ponto de ter ciência do casamento com Deus, almejado pelo nosso batismo. Por isso precisamos ir ao encontro dessas pessoas e ajuda-las a enxergar, pelo menos até onde conseguirmos. Pois sabemos que quem não quer ver, dificilmente verá senão pelos próprios olhos.

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