Lectio Divina (Eclo 34, 18-22): a verdadeira oferta é a do amor


Hoje a lectio vem falar sobre a falsa religiosidade.

Logo no primeiro versículo, o autor sagrado admoesta o povo, mostrando que oferecer sacrifício de bens injustamente adquiridos é o mesmo que fazer zombaria com a religião e que as ofertas dos infiéis não são agradáveis a Deus. De fato, muita gente procura a igreja por motivos egoístas. Procura para alcançar graças, para ficar bem consigo mesmo. Mas quando fica bem e quando recebe a graça, vai embora. Outros ainda roubam do próximo e utilizam o dinheiro como oferta para desagravar o pecado de ter roubado. Grande ilusão, grande hipocrisia! O que agrada a Deus é nossas tentativas, ainda que nós falhemos, de sermos bons e amarmos os outros. O verdadeiro sacrifício é a misericórdia (c.f. Mateus 9, 9-13).

O autor nos diz que Deus não gosta da oferta dos injustos, que não importa o tamanho da oferta, o Senhor não perdoará uma pessoa que não esteja verdadeiramente arrependida do mal que fez. Uma coisa é a pessoa roubar, pegar uma parte e dar a Deus, achando que está “pagando” sua dívida com o Senhor dos Exércitos. Outra coisa é você se arrepender e devolver o valor à vítima. Veja, por exemplo, como foi a conversão de Zaqueu (c.f. Lucas 19, 1-9). Ele disse que daria metade dos bens aos pobres e que restituiria o quádruplo de quem ele roubou. O próprio Jesus, diante da afirmação dele, disse que a salvação entrou naquela casa. E certamente o que Zaqueu disse foi cumprido, porque ninguém engana o Senhor e se fosse uma mentira, Jesus saberia (c.f. João 6, 64).

O autor ainda faz uma comparação, mostrando que quem faz um sacrifício com bens injustos é como quem imola o filho na presença do próprio pai. Pensemos da seguinte maneira: se temos uma pessoa a quem estimamos muito, um grande amigo ou um familiar que seja muito próximo, e alguém açoita essa pessoa, levando tudo o que tem dela. Você aceitaria que o espancador ladrão chegasse até você pedindo desculpas e devolvesse apenas 10% do que roubou como prova do arrependimento? Ou iria querer que, no mínimo, devolvesse todo o valor da pessoa que você estima? Acredito que se Deus fosse como os homens, teria trucidado essa pessoa. É por isso que precisamos nos arrepender verdadeiramente, perdoar segundo queremos que sejamos perdoados por Deus. Tudo é uma questão de se colocar no lugar do outro. E se fosse com você? Iria gostar? E quando a pessoa se coloca no lugar de Deus como no exemplo acima, pode notar o quão errada ela está. Colocar-se no lugar de Deus não no sentido de querer estar igual a Ele ou acima Dele, longe disso, mas sim no sentido de entender as realidades divinas, a vontade do Pai, através de uma situação corriqueira que poderia se assemelhar à do Pai diante de nós. Jesus usava muito isso para ensinar e chamava de “parábolas” (c.f. Mateus 13, 13-17).

“O pão do indigente é a vida dos pobres, e quem tira a vida dos pobres é assassino”, diz o autor sagrado. De fato, o alimento nos fortalece para a caminhada. Se alguém tira essa alimento de nós, é certo que podemos desfalecer. Pior do que isso é quando o alimento é retirado de um pobre. O pobre já tem pouco e se lhe tiram o pouco que tem, o que lhe restará senão a morte por inanição? Por isso de maneira muito lógica o autor chama de assassina uma pessoa que rouba do pobre, porque de fato o é, ainda que indiretamente.

Por fim, o autor sagrado generalizar de maneira muito pertinente o que refletimos no parágrafo anterior. Mata o próximo quem lhe tira os seus meios de vida. Isso me faz lembrar, por exemplo, quando uma pessoa depende de aparelhos eletrônicos para sobreviver e alguém desliga esses aparelhos. Se uma pessoa tira as condições que alguém tem de viver, certamente estará contribuindo para a morte desta. Por isso a igreja é contra o aborto e a eutanásia, por exemplo. Tais atos tiram as condições que a pessoa tinha de sobreviver. Num caso, o útero materno, que deveria ser aconchego e lar, torna-se um cemitério, um sepulcro caiado. No outro, um quarto de hospital que deveria ser lugar de cura, torna-se lugar de decisão de morte.

Peçamos a Deus a graça de optarmos pela vida e pela justiça, vivendo a ética e a moral inspiradas pelo nosso Pai Celestial. Louvado seja o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado.

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