Lectio Divina (Eclo 20,13-23): Palavras de sensatez


A diferença entre o insensato e o sábio não está nas palavras que dizem, que poderiam ser as mesmas. Está no seu proceder, modo de agir e no tempo que agiu. uma palavra certa dita no momento errado pode causar um estrago tão grande quanto uma palavra errada dita no momento adequado para se falar.

O insensato é aquele que dá e espera receber. É um presente cheio de interesses e segundas intenções. Sábio é quem dá sem esperar nada em troca, sem gastar energias desnecessárias esperando que o outro faça o mesmo ou algo melhor para você.

O insensato ainda, segundo as sagradas escrituras, é odioso porque dá o mínimo possível e vive reclamando que não recebe nada. Mal empresta a alguém e já quer a restituição. Fica importunando para receber seus “lucros”. Ao meu ver, é uma pessoa com um psicológico abalado, que gasta suas energias com futilidades. Uma pessoa que é escrava do prazer de ter e que quanto mais tem, mais quer. Uma pessoa assim vive para si e se esquece dos outros e o autor sagrado considera-o como insensato e de fato o é.

Ele chega até a reclamar que não tem amigos. Mas lógico, como o reclamador, que não sabe dar um elogio embora tenha esta capacidade por ser humano, como ele quer ter amigos? Os amigos nós o temos quando, antes de tudo, somos amigos. Pudemos fazer uma reflexão sobre a amizade na Lectio de Eclo 6, 1-17.

O autor sagrado mostra, ainda, que é melhor escorregar no chão do que no falar. De fato, o corpo todo mundo sabe que um dia pode ruir. Uma queda é algo que pode acontecer com qualquer pessoa: do mais rico ao mais pobre. No entanto, escorregar no falar é algo que só o insensato vive. Escorregar no falar não indica uma queda meramente física, mas do interior daquela pessoa. Ninguém pode, mediante os seus pensamentos, simplesmente sair falando tudo o que vier na cabeça. É preciso paciência, é preciso calma, é preciso pedir a Deus que nos indique o momento certo de falar, juntamente com as palavras certas.

O desordeiro não quer saber se suas palavras vão ajudar. Ele quer a confusão e os insensatos vão multiplicando aquelas palavras proferidas pelo desordeiro. Hoje podemos chamar esse tipo de atitude de fofoca. A fofoca é a ruína de uma pessoa, pois sua imagem fica suja para com os outros. Ninguém se sente bem em confiar um segredo a um fofoqueiro, porque este espalhará aquilo que foi dito como fogo na palha seca.

Existem aqueles que não conseguem pecar pela língua porque são pobres de palavras, porque não pediram a Deus e não querem o dom da palavra. Eles se subestimam nisso. No entanto, por manter o santo silẽncio, elas dormem tranquilas pois sabem que nenhum mal fizeram a ninguém.

O respeito humano é algo necessário em nossas vidas, pois a verdadeira liberdade é aquela onde respeitamos o espaço e as decisões do outro, sem nos intrometer em sua vida e escolhas. Veja por exemplo as manifestações que aconteceram ontem: como tais pessoas podem ser sensatas, se elas não respeita nada nem ninguém? Se elas não respeitam a liberdade das pessoas? Querem por fina força que todos sigam pelo mesmo caminho? No entanto, segundo o autor sagrado, respeitar o insensato é o mesmo que se perder. Acredito que todos merecem algum respeito, mesmo os que escolhem pelo mal. Porém esse respeito não pode ser o de aceitar a vilania de quem faz o mal, pois o mal consiste justamente em praticar uma transgressão que fará algo de ruim ou muito grave a si mesmo ou a alguém. São justamente os insensatos que não respeitam as pessoas, que jogam bombas nos carros dos cidadãos, que destroem monumentos de patrimônio público. Precisamos saber dosar as coisas, não deixando que por puro respeito humano, deixamos de criticar tais atrocidades.

Por fim, o autor sagrado mostra que muitas vezes as pessoas criam inimigos por conta de promessas não cumpridas. Isso também cai na questão do falar. Não se pode falar aquilo que não se pode fazer. Isso seria um grande contra testemunho e as pessoas veriam a pessoa como um mentiroso, que não cumpre o que diz.

Peçamos a Deus a graça de nos vigiar, de olhar para as nossas atitudes e nos abrir à graça do Espírito Santo de nos conduzir por um bom caminho, onde falamos coisas boas, criticando o maldade com um bem.

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